Por Michelle Novaes
Existe uma frase que reverbera no meio empresarial que diz “use a sua influência de forma positiva”. Após os desafios enfrentados nos últimos anos, no Brasil e no mundo, mais do que nunca, há uma importância crescente para as empresas melhorarem seus indicadores ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Em termos simples, significa investir em práticas de gestão que possam nos levar a uma sociedade mais sustentável, justa e ética.
Nessa lógica, o direcionamento das empresas, organizações e entidades públicas não deveria ser norteado apenas para cumprimento das metas de produtividade, à indiferença de seus custos socioambientais. Em vez disso, devem voltar os esforços para os chamados stakeholders (colaboradores, clientes, fornecedores e a comunidade local), grupos que são impactados pelas ações da empresa e esperam mais do que apenas números positivos.
Empresas bem-sucedidas investem em projetos, ações sociais e até mesmo no empoderamento de influenciadores locais como forma de potencializar o desenvolvimento sustentável da organização. Significa dizer que estar atento à agenda ESG hoje não é mais uma opção, e, bem desenhada, pode ser uma poderosa estratégia de vantagem. Afinal, a longo prazo, a transparência na governança corporativa, a preocupação ambiental e o grau de responsabilidade social de uma organização são fatores que determinam quão bem ela pode atender às diferentes necessidades do seu público-alvo.
No Brasil, onde questões de responsabilidade política das empresas se colocam cada vez mais presentes, o uso dos recursos privados frente a temas sociais e econômicos assume maior protagonismo frente às maiores preocupações da população. Segundo levantamento mensal realizado pelo Instituto Ipsos, empresa de pesquisa e inteligência de mercado, a pobreza e a desigualdade social são as questões que mais afligem a população brasileira hoje (41%). Em seguida, aparecem a saúde (34%), e, logo após, a inflação (33%). Além disso, 79% dos brasileiros concordam que a situação da economia no Brasil merece maior responsabilidade por parte dos investidores.
Nesse sentido, para realizar ações efetivas de influência no comportamento ético, por exemplo, é preciso construir uma consistente linha de comunicação com seu público. Os consumidores preferem comprar de empresas que defendem propósitos alinhados aos seus valores de vida e que não ignoram a realidade atual.
Métricas consistentes de ESG podem demonstrar como integrar as políticas empresariais já existentes ou se devem ser aperfeiçoadas para favorecer o compartilhamento dos recursos da empresa com toda a comunidade do seu entorno. Será preciso evidenciar que a empresa apresenta uma atuação sustentável no uso das suas matérias-primas, que seus colaboradores e a comunidade se beneficiam de suas ações sociais e que ela não atua em “benefício próprio”. Assim, seus stakeholders terão motivos para falar de você, levantar a sua bandeira, como legítimos defensores da sua marca.
No presente, o controle do abuso dos indicadores de ESG (o greenwashing, a “lavagem de reputação” da empresa) já é atuação prioritária nos EUA e na Europa. Este movimento não deve tardar a chegar no Brasil. E em um futuro – não muito distante – os indicadores ESG não poderão ser usados como uma narrativa para conquistar o consumidor e vender mais, ou para emitir, com fraude, papéis sem lastro. Não bastará ter um selo ou somente um relatório para acionistas. Ações efetivas precisam sair do papel. Desenvolver e executar uma estratégia ambiental, social e de governança é fundamental. Afinal, o valor e a longevidade de uma empresa hoje estão diretamente ligados a seu propósito e ao impacto positivo das suas ações. É esta a liderança que esperamos na pauta ESG.