Aparelho fixo de telefone pode se tornar raridade no Brasil já em 2021

Aparelho fixo de telefone pode se tornar raridade no Brasil já em 2021

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Os investimentos em telefonia móvel cairão pelo terceiro ano seguido em 2017, apesar da crescente demanda.

Hoje, 63% dos lares têm somente celular, e apenas 2% têm só telefone fixo, que, segundo especialistas, terá praticamente desaparecido em 2021.

Os investimentos em telecomunicações devem registrar seu terceiro ano consecutivo de queda em 2017.

Especialistas estimam que os recursos destinados à expansão de antenas e redes de fibra óptica caiam 5% este ano, para R$ 26,6 bilhões — no momento em que o país precisa ampliar essa infraestrutura para se manter conectado.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, cerca de 63% dos lares brasileiros usam apenas o celular para falar. São 41,2 milhões de residências.

Na outra ponta, apenas 1,3 milhão de lares se comunicam somente pelo telefone fixo, cerca de 2% do total. E mais : 60,3% das famílias (41 milhões) acessam a internet pelo telefone móvel.

O celular é a principal forma de comunicação no país, seja pela voz ou pelo acesso à internet, segundo especialistas. Mesmo assim, o brasileiro já vem sentindo na pele os efeitos dos baixos investimentos das empresas. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco revelam que o país chega ao fim de 2017 com 471 municípios sem cobertura 3G. No caso da quarta geração de telefonia móvel (4G), que confere maior velocidade de conexão móvel, falta levar antenas para 2.207 cidades. O país tem, no total, 5.570 municípios.

De acordo com a Huawei, um dos principais fabricantes de equipamentos para o setor, somente a demanda por internet móvel vai crescer 45% ao ano até 2020. O especialista em infraestrutura Hermano Pinto afirma que, no Brasil, o celular, a exemplo do que ocorre nas principais economias, vai se tornar o principal produto para uma série de atividades, como fazer fotos, gravar vídeos e assistir televisão ao vivo. Mas para isso, ressalta, uma boa conexão é essencial para colocar o Brasil no mesmo patamar dos países mais avançados.

— Com a crise econômica, as teles estão muito preocupadas com sua margem. Um investimento em telecomunicações leva de três a quatro anos para dar retorno. E, tendo em vista o atual cenário, com uma concorrência maior com as empresas de internet e os provedores menores, as grandes teles vêm priorizando o investimento onde há maior rentabilidade, com taxas de retorno em torno de um ano e meio. Mas telecom é capital intensivo — afirma Hermano Pinto.

Especialistas explicam que, na estratégia das grandes empresas do setor, pesam não só o ritmo lento de recuperação da economia, como as incertezas relacionadas ao processo eleitoral em 2018, a crise da Oi e a pressão por mudanças na legislação.

Nesse cenário, acrescenta Basílio Perez, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), são as pequenas prestadoras de serviços que estão levando a conexão para o interior. Segundo ele, os provedores locais já somam 15% do mercado de telefonia móvel e internet banda larga.

— A maior parte das pequenas e médias empresas do setor atua em cidades com menos de cem mil habitantes. O curioso é que em casas onde há jovens não há mais interesse nem na TV por assinatura. O foco é mesmo internet e telefonia móvel — ressalta Perez.

A edição mais recente da pesquisa TIC Domicílios, elaborada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), mostra que a banda larga móvel tem sido fundamental para garantir o acesso quando a rede fixa não está disponível. O percentual de lares sem computador, mas com acesso a internet dobrou em dois anos, passando de 7% para 14% entre 2014 e 2016.

O levantamento, divulgado em novembro, destaca que o crescimento da banda larga móvel ocorre com maior intensidade entre classes sociais menos favorecidas e nas áreas rurais. Na Região Norte, tradicionalmente menos atendida por infraestrutura fixa, o percentual chega a 22%.

A popularização da internet móvel está ligada ao custo menor do celular, que ganhou a preferência dos brasileiros nos últimos anos, destaca Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad :

— Nos domicílios com crianças pequenas, por exemplo, sai mais barato deixar um telefone celular pré-pago para falar com a babá do que pagar a assinatura de um telefone fixo. Além disso, no celular é mais fácil encontrar a pessoa a qualquer hora.

As empresas afirmam que a retomada do investimento depende de mudanças regulatórias. Elas avaliam que o principal desafio é aprovar o projeto de lei complementar (PLC) 79, que permitirá transformar a concessão em autorização, no âmbito da atualização da Lei Geral de Telecomunicações, atualmente parado no Congresso. As empresas estimam que, caso essas mudanças avancem, há um potencial para se elevar os investimentos em mais de R$ 10 bilhões por ano.

Um exemplo envolve a obrigatoriedade de ampliação e manutenção dos orelhões públicos, caso de Oi e Telefônica. As teles argumentam que esses recursos poderiam ser direcionados a outras áreas, como ampliação dos serviços de banda larga.

Outro caso é o uso dos chamados bens reversíveis, que hoje não podem ser vendidos como forma de gerar caixa para mais investimentos. Caso que, além de Oi e Telefônica, afeta a Embratel, que pertence ao mesmo grupo da Claro, a América Móvil.

— É preciso atualizar a regulamentação. As concessionárias, que são as maiores companhias do país e indutoras do desenvolvimento do setor, estão presas em uma legislação que as obriga a investir onde não há mais demanda, como o telefone fixo. Por isso, a mudança é necessária — afirma o advogado Nelson Santos, especialista em telecomunicações.

Para Arthur Barrionuevo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vagas (FGV), o setor precisa de incentivos para ampliar a oferta de banda larga. A mudança na Lei Geral de Telecomunicações, diz, seria um estímulo :

— Uma empresa como a Oi, independentemente da crise, quando está fazendo investimento em banda larga, fica em uma situação complicada. Fica a dúvida sobre se, quando acabar o contrato, ela vai ter de volta o investimento.

A carga tributária sobre o setor, destaca Arthur Barrionuevo, também é um entrave :

— Temos um imenso potencial. Empresários vivem chorando por imposto, mas, no caso da telefonia, eles têm razão. Quase metade do faturamento é imposto. É óbvio que isso atrapalha, porque o investimento fica menos rentável.

O nível de investimento aquém do ideal se reflete no número de antenas instaladas no país. Segundo a SindiTelebrasil, associação que reúne as teles, o país conta com 86 mil estações. O número é pequeno se comparado a cidades como Pequim, na China, onde há 60 mil antenas, destaca a Huawei. Carlos Lauria, diretor de Relações Governamentais da companhia, cita a vasta legislação para a instalação dos equipamentos a nível municipal.

— Embora a Lei da Antena tenha beneficiado o setor, há uma série de leis municipais que dificultam o investimento. São mais de cinco mil cidades, e cada uma tem suas regras. É preciso resolver todos esses impasses, pois o 5G daqui a pouco está chegando, e o número de antenas vai aumentar. A imagem em ultradefinição vai precisar de mais banda — diz Lauria, lembrando que os fabricantes vêm desenvolvendo equipamentos menores para poder ampliar a cobertura.

O telefone fixo, que já chegou a ser item obrigatório na declaração do Imposto de Renda e símbolo de status social, pode estar com os dias contatos nas casas dos brasileiros. De acordo com uma fonte ligada às operadoras de telefonia e ao governo, a expectativa é que em 2021 o aparelho já tenha praticamente desaparecido dos lares. A estimativa é feita com base na tendência de queda no número de linhas residencias em uso no país.

Além disso, especialistas lembram que em 2025 vai acabar a concessão da telefonia fixa do país.

Segundo a atual Lei Geral de Telecomunicações (LGT), essa concessão não poderá ser renovada por Oi e Telefônica, a não ser que a legislação passe por mudanças. Essas alterações são previstas no projeto de lei complementar (PLC) 79, que está parado no Congresso.

Os dados mostram, mês a mês, o declínio do telefone fixo. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, o número de lares que usam o fixo passou de 12% em 2005 para apenas 2% no ano passado. Ou seja, caiu de 6,5 milhões para 1,3 milhão de residências. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o total de linhas em uso, o que inclui as linhas fixas comerciais, é de 40,9 milhões, pelos dados de novembro. O número é 2,8% menor que os 42,1 milhões registrados em outubro de 2016.

— O telefone fixo era um bem de valor elevado para aquisição e também de manutenção cara. As pessoas até usavam cadeado para os filhos não ficarem muito tempo no telefone. Já o celular tem preços mais baixos, além de auxiliar no trabalho. Muitas pessoas que trabalham na rua fazem do telefone seu escritório. Serve de agenda, de acesso à internet e para pesquisas — analisa Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad, ao explicar os motivos da perda de participação do fixo nos lares.

Além da concorrência com o telefone celular, especialistas citam ainda o surgimento de aplicativos que permitem ligações de voz, como o WhatsApp, que vem “roubando” receita das teles tradicionais.

— Hoje, o telefone fixo não tem mais o interesse do consumidor, pois deixou de ser o principal serviço — diz Basílio Perez, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).

Mas, para parte da população, o telefone fixo permanece como a principal forma de comunicação. É o caso do economista aposentado Hélio Perez, de 78 anos. Ele calcula que é assinante do serviço há pelo menos 40 anos. Embora tenha celular e use WhatsApp, o aparelho fixo, diz, permite conversas mais longas.

— Nós (ele e a mulher, Anna Maria Perez, de 77) temos WhatsApp por necessidade de contato com amigos, parentes. Mas somos completamente contra. Fica muito frio. O celular se torna uma coisa mais rápida, menos cordial, menos efetiva. É ruim mandar Feliz Natal para uma pessoa que você quer bem por mensagem escrita — argumenta Perez.

Já para o ajudante de refrigeração Ítalo Araújo, de 28 anos, manter o telefone fixo em casa é apenas uma questão técnica. Morador de Cordovil, na Zona Norte do Rio, ele já tentou cancelar o serviço, mas foi informado pela operadora de que só poderia ter a banda larga se tivesse também uma linha fixa, que custa R$ 70. Com a conta de internet, paga, no total, R$ 120 por mês.

— Mantenho minha linha exclusivamente por causa da internet. Já tentei cancelar, mas a operadora não disponibiliza o serviço da internet sem o fixo na minha região. Assim que ficar disponível, irei cancelar — diz Araújo.

Ele tem essa linha há três anos, mas hoje não usa para fazer uma ligação sequer. Todo o contato é feito por celular ou WhatsApp.

— Usava muito o telefone fixo para falar com amigos, parentes. Mas há uns quatro ou cinco anos, quando a internet começou a ficar mais acessível, comecei a abandonar o fixo —explica.

As empresas de telecomunicações, por outro lado, garantem que a linha fixa ainda é um serviço importante. Segundo Mauro Fukuda, diretor de Tecnologia de Rede e Estratégia da Oi, o foco da companhia é aproveitar a rede presente em 5.500 municípios para oferecer outros serviços, além de voz.

— A telefonia fixa tradicional é só um dos serviços. Estamos utilizando a rede fixa para transporte de dados de internet. O grande crescimento está previsto em cima de internet das coisas — afirma Fukuda.

Ele lembra que a Oi tem hoje 9,3 milhões de linhas fixas. De dezembro de 2012 a novembro de 2017, o número de telefones fixos da empresa caiu 33%. A empresa diz manter a oferta do serviço para atender a diferentes perfis de cliente.

O grupo mexicano América Móvil, dono de Net, Claro e Embratel, tem 10,5 milhões de linhas fixas instaladas no país. Entre outubro de 2015 e outubro deste ano, o o número de usuários cresceu 11%. “A telefonia fixa ainda é um serviço muito importante para as famílias brasileiras. Existe uma demanda”, afirmou a empresa.

Com 9,5 milhões de linhas fixas residenciais, a Vivo, da espanhola Telefônica, também tem planos de manter o serviço. “Mesmo em meio a um processo natural de redução da demanda por serviços de voz tradicional, ainda existe procura. A Vivo sempre terá em seu portfólio de produtos ofertas adequadas às mais distintas necessidades dos clientes”, informou em nota.

Para a TIM, com 720 mil linhas fixas ativas, “o telefone fixo ainda é muito importante para uma parcela significativa da população.” Assim como as outras teles, a empresa passou a incluir chamadas ilimitadas nos planos ofertados aos seus clientes, além de pacote para ligações internacionais.

Fonte : O Globo

 

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