Imediações da Alerj viram praça de guerra durante protesto

Imediações da Alerj viram praça de guerra durante protesto

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Ao longo da última terça-feira, o protesto de centenas de servidores estaduais em frente ao prédio da Assembleia Legislativa (Alerj) se transformou num tumulto generalizado, com confronto intenso entre policiais e manifestantes, que se estendeu da região onde fica o Palácio Tiradentes até o Largo da Carioca.

No início da noite desta terça-feira, o carro blindado do Batalhão de Choque seguiu em direção ao Largo da Carioca, atirando bombas nas ruas. Labaredas podiam ser vistas por quem estava na região da Alerj.

Durante todo o dia, a equipe de reportagem do GLOBO flagrou a PM atirando bombas e balas de borracha de lugares altos, como a janela da Igreja São José, o terraço de um prédio na vizinhança da Alerj e o alto do Paço Imperial. Segundo a PM, onze policiais militares ficaram feridos durante o ato e nove pessoas foram presas.

Cerca de 30 pessoas feridas foram atendidas no Departamento Medico da Alerj, entre policiais, servidores da Casa e os deputados Tia Ju e Pedro Fernandes.

Durante a tarde, o prédio conhecido como Banerjão, para onde os deputados deverão se mudar, começou a ser depredado. Manifestantes invadiram o primeiro andar e, usando móveis, fizeram uma grande fogueira. Um trator usado na reforma do edifício também foi incendiado. Parte da fachada de vidro foi destruída.

No fim da tarde, o número de manifestantes diminuiu em frente à Casa, depois que a polícia conseguiu dispersar muitos deles pelas vias do Centro, usando bombas e gás lacrimogênio. No meio da tarde, a PM fez um cordão de isolamento com escudos para pedir a aproximação de manifestantes, que continuaram atirando pedras contra o Palácio Tiradentes. Os servidores em protesto fizeram uma barricada e atearam fogo em frente à Casa. Homens da cavalaria se posicionaram na Praça Quinze, para onde os manifestantes também se dirigiram.

Vários manifestantes, muitos deles mascarados, seguiram pela Avenida Nilo Peçanha em direção à Rio Branco, correndo e atirando lixo pela rua. A polícia jogou bombas e gás lacrimogênio contra o grupo.

A PM chegou a posicionar o caveirão na Avenida Rio Branco, na altura da Avenida Nilo Peçanha, e atirou bombas nos manifestantes que estavam na via. O blindado, em seguida, retornou para a Avenida Presidente Antônio Carlos, enquanto os retonaram para a Alerj. Um outro carro blindado do Batalhão de Choque circulou pelo Centro soltando bombas em pedrestres que seguiam em direção à Praça Quinze.

Pessoas que saíam do trabalho entraram em pânico devido à grande quantidade de bombas na Rua São José e na Avenida Presidente Antônio Carlos, esquina com Nilo Peçanha.

A escrevente de cartório Dayana Oliveira estava desesperada, sem saber como conseguiria chegar na Praça Quinze, onde pegaria a barca para Niterói.

– Meu Deus, estou com muito medo. Não sei nem qual caminho faço para sair daqui – disse ela, ainda sem saber o que fazer.

O subtenente dos bombeiros Samuel Napoleão Serpa acabou ferido no protesto com estilhaços de bombas da polícia. Mesmo com vários cortes na perna e sangrando, ele permaneceu na manifestação. O subtenente protesta com uma bandeira do Brasil manchada do próprio sangue.

– Você quer reivindicar e é atacado desse jeito. Estão colocando servidor contra servidor – disse ele, se referindo aos policiais. – Isso está praticamente virando batalha. E como faço para pagar as contas?

Mais cedo, manifestantes derrubaram uma cabine de despachante de empresa de ônibus, fizeram uma barricada para impedir a entrada do caveirão na Avenida Rio Branco e tentaram atear fogo na cabine.

O Tribunal de Justiça chegou a fechar as portas por alguns minutos por causa dos confrontos.

Nas imediações da Alerj, manifestantes juntaram lixos, caixotes de madeira, cones de trânsito e atearam fogo em frente à Igreja São José, na intensão de barrar o caveirão da polícia. O veículo estava posicionado perto da Praça Quinze e seguia em direção à Assembleia. A PM está soltando muitas bombas e, mesmo com a confusão, os servidores não desistem do protesto.

Um manifestante, que é estudante universitário, foi ferido no pescoço por uma bala de borracha e foi socorrido por bombeiros.

Toda a confusão começou após um grupo tentar invadir, por uma das laterais, a Casa, onde foram votadas as medidas do governo contra a crise.

Dentro da Alerj, funcionários distribuíram máscaras nos corredores da Casa.

Do lado de fora, homens do Batalhão de Policiamento de Grandes Eventos (BPGE), do Batalhão de Choque (BPChoq) e da Força Nacional de Segurança lançam muitas bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e gás de pimenta, e os manifestantes jogam rojões contra a PM.

A Avenida Antônio Carlos virou uma praça de guerra. Foi grande a quantidade de bombas arremessadas por policiais nas proximidades do Terminal Menezes Côrtes e na Rua São José. Na Rua Nilo Peçanha, os PMs avançaram em direção à Avenida Rio Branco e dispararam tiros de borracha contra os manifestantes. Houve muita correria. Algumas pessoas conseguiram se abrigar em prédios da região. Praticamente todos os estabelecimentos fecharam as portas.

— Manda mais bomba, Choque! Vão precisar de uma bazuca para a gente sair daqui — gritava um manifestante no carro de som, que foi atingido por bombas de gás.

Segundo a PM, onze policiais militares ficaram feridos e foram atendidos no ambulatório de dentro da Alerj. Um deles teve ferimento próximo ao olho, ocasiado pela explosão de um morteiro. Quatro policiais foram encaminhados ao Hospital Central da Polícia Militar (HCPM). Ainda de acordo com a PM, policiais do Batalhão de Choque entraram na Igreja de São José, vizinha à Alerj. para coibir a ação de manifestantes violentos no interior e no entrono.

Em nota, a Arquidiocese do Rio de Janeiro afirmou que vai apurar a ação da polícia dentro da igreja. “Em face do contexto atual que marca o Estado do Rio de Janeiro, importa que as soluções sejam buscadas através do diálogo e do esforço de todos, em vista da justiça e da paz”, diz o comunicado.

A professora Marta Morais, coordenadora do Sindicato estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), disse que as manifestações acontecerão em todos os dias de votação para que os deputados rejeitem o pacote.

— Começar a votação pela redução do salário do governador é uma demagogia. Uma forma de conquistar a opinião pública — disse a coordenadora do Sepe.

Do alto do carro de som, o subtenente Mesac Eflain, líder dos bombeiros, convocou os colegas.

— Não vão votar nada — disse Mesac, que foi seguido por uma grande queima de fogos.

Fonte : Jornal O Globo

 

 

 

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